A ciência brasileira explica a relação entre alimentação moderna e sobrepeso.
Você já se perguntou por que a obesidade cresceu tanto nos últimos anos, mesmo entre pessoas que tentam cuidar da alimentação? Um grupo de cientistas brasileiros acredita ter encontrado parte da resposta e ela está dentro do nosso próprio corpo: no sistema imunológico.
Nossos antepassados precisavam de um sistema de defesa muito forte para sobreviver a doenças e epidemias que, em alguns momentos da história, dizimaram populações inteiras. Esse sistema foi uma enorme vantagem no passado. O problema é que, hoje, em um mundo com comida industrializada por todos os lados e pouca atividade física, essa mesma resposta inflamatória pode estar nos prejudicando.
A teoria, proposta pelo endocrinologista Mário Saad, da Unicamp, e pelo biólogo Andrey Santos, foi publicada em uma das revistas científicas mais respeitadas do mundo, a Endocrine Reviews. Eles chamam essa ideia de “teoria da metainflamação” ou “do genótipo inflamatório”.
Funciona mais ou menos assim: quando comemos em excesso, principalmente alimentos ultraprocessados, nosso corpo reage como se estivesse enfrentando uma ameaça. Isso gera uma inflamação contínua, que não dá sintomas claros, como febre ou dor. Essa inflamação silenciosa, que já era conhecida pela ciência, agora é vista também como uma das causas da obesidade, e não só uma consequência. Ou seja, é uma via de mão dupla.
E tem mais: o sistema imunológico também pode ser ativado quando consumimos nutrientes demais, o que acaba interferindo na ação da insulina, um hormônio essencial para o controle do açúcar no sangue. Isso ajuda a entender por que pessoas com obesidade muitas vezes também desenvolvem diabetes tipo 2.
Outro ponto importante da teoria é o papel da microbiota intestinal, aquelas bactérias do bem que vivem em nosso intestino. Elas não estão ali só para ajudar na digestão. Elas conversam com nosso sistema imunológico o tempo todo. E o que comemos pode afetar diretamente essa comunicação. Com a alimentação moderna, baseada em fast-food e produtos industrializados, estamos vivendo com a menor diversidade bacteriana que o ser humano já teve. Isso fragiliza ainda mais nosso equilíbrio interno.
Mario Saad foi direto ao ponto durante uma palestra recente: “Não era para comermos tanta comida ruim.” Ele defende que não é preciso mudar a genética das pessoas, mas sim seus hábitos alimentares.
Os dados confirmam a urgência dessa conversa: segundo a World Obesity Federation, até 2035, metade da população mundial estará com sobrepeso ou obesidade. Isso mostra que a questão é muito mais profunda do que apenas “comer menos e se exercitar mais”. É sobre entender como o nosso corpo funciona, como ele reage ao ambiente moderno e, principalmente, como podemos criar caminhos mais saudáveis com conhecimento e acolhimento.
A boa notícia? Nosso corpo também responde bem a mudanças positivas. Melhorar a alimentação, buscar atividades físicas prazerosas, cuidar da saúde mental e olhar com mais carinho para o próprio corpo são passos poderosos. A ciência está aqui para nos ajudar, mas cada escolha, por menor que pareça, também conta.