Do campo à festa, como o milho alimenta a cultura, a fé e a identidade do Brasil.
Você já parou para pensar no quanto o milho está presente na vida, na mesa e na memória dos brasileiros? Mais do que um alimento, ele é símbolo de fartura, resistência e celebração, especialmente para quem vive e cultiva a terra.
Entre os 10 maiores produtores de milho do Brasil, sete são de Mato Grosso, de acordo com dados da Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) do IBGE. O município de Sorriso é conhecido como o maior produtor do grão, mas a lista também integra: Nova Ubiratã, Nova Mutum, Querência, Diamantino, Primavera do Leste e São Félix do Araguaia, evidenciando a liderança nacional do estado na produção do grão.
Enquanto em outras regiões o milho é visto como matéria-prima agrícola, no Nordeste ele é protagonista das festas e das refeições. Ele está nas músicas, nas danças, nos enfeites das festas juninas, e claro, no cardápio afetivo das famílias.
No coração do Nordeste, o ciclo do milho marca muito mais do que o tempo da lavoura. Ele guia o ritmo da vida, da fé e das festas. Não é à toa que os santos mais queridos do povo sertanejo caminham lado a lado com o plantio e a colheita do grão.
O céu fala com a terra
O milho precisa de chuva. Chuva certa e bem distribuída. Se ela vem só no começo, no tempo do plantio, mas falha depois… o milho “se perde na boneca”. É assim que o sertanejo diz quando a espiga até se forma, mas não amadurece. O grão não chega a tempo da colheita.
É por isso que, até o Dia de São José (19 de março), todo agricultor olha para o céu com esperança. Se não chover até lá, ele já sabe: plantar é arriscar perder. Porque sem chuva, não há milho, e sem milho, falta muito mais que alimento.
A fé se mistura com a colheita
Mas se a chuva vem na hora certa, o milharal cresce bonito. E o milagre se cumpre: a terra retribui com fartura. A primeira colheita costuma chegar por volta do Dia de Santo Antônio (13 de junho).
No São João (24 de junho), os celeiros estão cheios e a mesa também. É o auge da colheita, e por isso o São João é celebrado com tanto entusiasmo. É a festa da fartura, da solidariedade e da partilha. Dia de reunir vizinhos, família e amigos. De comer junto, dançar junto, rir junto.
E o que está no centro dessa festa? O milho. Milho assado, cozido, em forma de pamonha, canjica, curau, bolo… Ele é a alma da festa, o elo entre o campo e a cozinha, entre o sagrado e o cotidiano.
Mais do que um alimento: um símbolo de identidade
O milho faz parte da história do Brasil desde antes do Brasil ser Brasil.
É herança dos povos originários, sustento dos colonos, tesouro do povo nordestino. Está presente na música, nos trajes, nas rezas, nas danças. É alimento, memória e raiz.
Por isso, falar de milho é falar de cultura, de resistência e de pertencimento.
Um grão que nos ensina sobre tempo, paciência, fé e partilha. Nos lembra que tudo tem seu ciclo, e que a fartura só vem quando há cuidado da terra, da natureza e das pessoas.Que nunca nos falte milho na mesa e alegria de celebrar a fé e a fatura em junho.